O Cicloturismo de Luto

Hoje, pela manhã, ao acessar as páginas dos jornais enquanto tomava café, tive a desagradável surpresa de ler sobre o acidente ocorrido com o casal de cicloturistas suecos em uma rodovia no estado do Acre na última terça-feira.

Lamentável… e meus mais profundos sentimentos à familia…

Karl Emil Andreas Börner, 25, e Johanna Charlotte Eklöf, 26, começaram sua cicloviagem em Ushuaia, Argentina, subindo em direção norte, passando pelo Chile, Bolívia e Peru. O destino final seria o Alaska, nos EUA. Eles haviam acabado de entrar no Brasil e trafegavam pela BR-317, na altura do município de Epitaciolândia, no Acre, quando foram atingidos pelo wolkswagen UP dirigido por José Ribamar Mendes Jr., 33, que estava acompanhado da mulher e voltava de uma viagem de compras à cidade boliviana de Cobija, aproximadamente às 10:30 da última terça-feira.

Karl Börner e Johanna Eklöf - Arquivo Pessoal/Fecebook/The Big Tripse

Karl Börner e Johanna Eklöf – Arquivo Pessoal/Fecebook/The Big Tripse

Segundo o delegado encarregado do caso, o motorista não estava embriagado e alegou que não viu os ciclistas, que ainda segundo o delegado, trafegavam pelo acostamento e foram colhidos por trás pelo veículo.

O casal mantinha um blog – THE BIG TRIP – onde contavam suas experiências de viagem.

Bah…

Utilizo a bicicleta como meio de transporte todos os dias, cobrindo uma média diária de 35km/dia, de segunda à sábado, num misto de trajeto urbano e rodovia, o que me faz, em termos de quilometragem mensal, quase um cicloturista.

Sempre procuro analisar os acidentes ciclísticos com os quais tenho contato. Sempre se pode aprender ou corrigir algum defeito ou vício de condução que por ventura estejamos cometendo, advertida, ou inadvertidamente, além de, claro, nos fazer lembrar que uma boa dose de medo é sempre bem vinda, pois nos impõe – ou relembra – nossos limites às vezes esquecidos.

Via de regra, acabo sempre constatando algum erro evidente, seja nosso (ciclistas), seja dos motoristas (geralmente alcoolizados). Um abuso aqui… Um risco mal calculado acolá… E vidas são perdidas.

Neste caso em particular, o mais doloroso é que os ciclistas trafegavam – segundo o próprio delegado do caso – de forma correta e tranqüila pelo acostamento da estrada. Uma lástima sem comentários…

Que nossa irmã Johanna descanse em paz. Se nos serve de consolo, ela fazia o que queria e o que gostava quando nos deixou. E uma vida sem riscos… não é vida.

Que nosso irmão Karl se recupere rápido, e possa decidir com calma sobre se levará adiante sua vida plena de aventuras ou não. Sua decisão será sempre respeitada.

Quanto à nós, bem… que Deus nos proteja e guie para podermos desfrutar em toda plenitude o indescritível prazer de cicloviajar, pois nas mãos dele repousa toda nossa sorte.

Uma grande abraço à todos.

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4 pensamentos sobre “O Cicloturismo de Luto

  1. É realmente triste! Infelizmente no Brasil, por regra geral, os motoristas não respeita, aos ciclistas. Me lembro quando muitas vezes estava pedalando por alguma rodovia e os carros passavam raspando por mim. Nunca respeitavam uma distância prudencial quando passavam. Quando vivia no Brasil inclusive achava isso normal, já que era o único que conhecia. Quando comecei a pedalar aqui na Espanha percebi que uma boa educação vial, somada a aplicação de multas aos infratores, pode melhorar muito a experiência do ciclista, que ao pedalar mais tseguro, desfruta da maravilhosa experiência que é pedalar. Bem, agora fico por aqui porque a bike me espera para sair ( e já está impaciente). Grande abraço irmão!

    • jramalho63 disse:

      Claudine.

      Primeiro de tudo, obrigado pela visita e comentário. Retribuirei, com certeza.

      Pois, é… essa tragédia com essa menina me deixou algumas impressões bem fortes. Acho que a constatação de que a vida pode realmente ser muito cruel e impiedosa é a maior delas. Veja… ela saiu da bastante consistente segurança de sua terra para conhecer o mundo – ou parte dele – em cima de uma bicicleta. Não estava fazendo nenhum mal a ninguém, muito ao contrário, estava difundindo um modo de vida saudável, respeitoso ao planeta e extremamente sociável. Perdeu a vida de uma forma injusta, num canto esquecido pelo progresso social e educacional e regido pela “justiça” da desonestidade e do poder. Pelas mãos de um irresponsável, que como punição, pagará alguns tostões pelos serviços de um advogado para no fim das contas, gastar mais alguns tostões em cestas básicas, quando muito, e se acontecer. Lamentável, para se dizer o mínimo, né?

      Interessante mesmo é quando você fala que “até achava normal” ter os veículos passando alguns centímetros da sua cabeça, e que só foi entender o absurdo que isso significava quando mudou-se para a Espanha. Você resumiu bem um clichê usado para definir os países subdesenvolvidos: “A IGNORÂNCIA É UMA BENÇÃO”.

      Aqui no Brasil, vivemos achando normalíssimo que as ruas, avenidas, estradas, calçadas, cidades e até o interior de casas, lojas e escritórios sejam de propriedade exclusiva e soberana dos automóveis. Eles podem tudo. Até mesmo subir nas calçadas, entrar nas casas e lojas, e passar por cima de nós quando decidirem que é hora de fazer isso. O que dirá das ruas, avenidas e estradas? Lá, eles têm a licença de morte sem punição.

      Muito se fala ao redor do mundo sobre o problema das armas de fogo, mas, esquece-se do problema ainda maior das armas com motor à explosão, os veículos. Eles matam mais que armas em guerras e violência urbana e, de quebra, ainda nos dão totalmente “de grátis” a poluição do ar. Grande negócio, não?

      Mas os automóveis – assim como as armas de fogo – não saem por aí matando gente. Meu carro mesmo passou esta semana sozinho na garagem e não saiu de casa uma vez sequer para nada. Nem matou ninguém!

      O problema somos nós mesmos. Conheço muitos ciclistas diletantes e praticantes que quando sentam ao volante de seus automóveis, transformam-se em competidores e pilotos de prova em disputa de um grande, enorme e magnífico prêmio: vencer a si próprios e seus complexos de inferioridade adormecidos em suas entranhas. Eu mesmo, na juventude, quando a gente se acredita “imorrível”, já cometi meus pecados contra ciclistas indefesos, tendo sempre sido um deles. E posso garantir que não passo muitos dias sem me recordar desses momentos e me sentir um grande idiota por não poder voltar ao passado e consertar isso.

      Tenho acompanhado algumas atitudes e mudanças com relação ao ciclismo como meio de transporte pessoal – principalmente na Inglaterra e aí na Espanha – e só vejo aumentar a distância do Brasil em relação à uma educação mínima sobre isso. Muito mínima mesmo. Em termos de uso da bicicleta como veículo de transporte, Inglaterra e Espanha estão para o Brasil assim como nós estamos para as amebas mais primitivas. E isso sem mencionar países como Holanda, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Bélgica etc. É desanimador, Claudine…

      Bem… chega de lamentação, não é? Grande abraço, tudo de bom e bons pedais pra ti e todos aí.

      Mais uma vez, obrigado.

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